Pejotização: autonomia disfarçada ou precarização moderna?
Quando ser “dono do próprio CNPJ” vira uma armadilha
A palavra pejotização ganhou espaço no vocabulário corporativo e também nas manchetes. O que antes era exceção, hoje é estratégia recorrente em empresas de todos os tamanhos. Mas a pergunta que incomoda continua ecoando: a pejotização é sinônimo de liberdade ou um novo formato de exploração?
De um lado, empresas defendem o modelo como símbolo de flexibilidade, eficiência e redução de custos.
De outro, profissionais relatam insegurança, ausência de direitos trabalhistas e sobrecarga disfarçada de autonomia.
A fronteira entre empreender por escolha e empreender por necessidade nunca foi tão tênue.
O que é, de fato, a pejotização
Pejotização ocorre quando uma empresa contrata uma pessoa jurídica, e não um empregado CLT, para desempenhar as mesmas funções de um colaborador regular.
Na prática, o profissional atua como se fosse parte do time, mas sem carteira assinada, 13º, férias ou FGTS.
Parece moderno, mas há um detalhe crucial:
quando a relação de subordinação e habitualidade existe, mesmo com CNPJ, a Justiça do Trabalho pode reconhecer vínculo empregatício.
Em outras palavras: chamar alguém de “prestador” não muda o fato de que ele pode ser, juridicamente, um funcionário.
Autonomia real ou ilusão conveniente?
É fato que muitos profissionais enxergam na pejotização uma forma de ganhar liberdade:
- negociar seus contratos,
- definir honorários,
- gerir o próprio tempo,
- e até otimizar a carga tributária.
Mas essa autonomia só é verdadeira quando há poder de escolha — e não imposição.
O problema é que, na maioria dos casos, o prestador é obrigado a abrir um CNPJ para manter o emprego, perdendo garantias sem ganhar poder real.
E é aí que a suposta modernidade revela seu custo: a precarização do trabalho em embalagem de empreendedorismo.
O impacto silencioso nas relações corporativas
A pejotização mudou a dinâmica das empresas e nem sempre para melhor.
Enquanto o discurso de “autonomia” se espalha, cresce o número de disputas judiciais por vínculos mascarados.
Os riscos são reais:
- Para o profissional: falta de segurança, instabilidade financeira e ausência de benefícios.
- Para a empresa: risco jurídico e dano reputacional, caso o modelo seja caracterizado como fraude trabalhista.
Segundo o Tribunal Superior do Trabalho, o número de ações relacionadas à pejotização vem aumentando nos últimos anos, especialmente em áreas como tecnologia, saúde e comunicação. Ou seja, a prática pode sair cara, para ambos os lados.
Conheça seus direitos (e seus limites)
A pejotização não é ilegal. O que a Justiça combate é o uso indevido dessa modalidade para mascarar vínculos de emprego.
Por isso, é essencial saber:
- Se há subordinação direta, jornada fixa e exclusividade, há fortes indícios de vínculo trabalhista.
- Se há autonomia na execução do trabalho, liberdade de horários e múltiplos clientes, a relação tende a ser legítima.
- E se houver dúvidas, consultar um advogado trabalhista é o primeiro passo para evitar prejuízos futuros.
E você, acredita que a pejotização representa um avanço no mercado de trabalho ou um retrocesso disfarçado de modernidade?
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